domingo, 25 de outubro de 2009

Agência Brasil - Combate às drogas baseado na proibição é "caminho para o desastre", diz especialista - Segurança

 
23 de Outubro de 2009 - 15h07 - Última modificação em 23 de Outubro de 2009 - 15h07


Combate às drogas baseado na proibição é "caminho para o desastre", diz especialista

Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil

 
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Rio de Janeiro - As políticas de enfrentamento à questão do tráfico e do consumo de drogas baseadas na proibição são um “caminho para o desastre”. A avaliação é do detetive aposentado da Polícia de Nova Jersey, nos Estados Unidos, Jack Cole. Para ele, que trabalhou infiltrado no mundo do narcotráfico em seu país de origem por mais de dez anos, a repressão tem um custo alto para o Estado e traz pouca eficácia no dia a dia da sociedade.  

Para justificar sua hipótese, Cole citou a política norte-americana de combate às drogas.

“Quando a nossa política de combate começava, na década de 1970, os estudos apontavam que cerca de 1,3% da população era viciada em algum tipo de droga. Por conta disso, começamos uma guerra, com custos de aproximadamente US$ 100 milhões ao ano. Passadas algumas décadas, os gastos que temos nessa área já chegam a US$ 70 bilhões e o percentual de viciados continua nos 1,3%", argumentou.

"Além disso, mesmo com toda essa política, as apreensões passaram de gramas a toneladas. Enquanto o grau de pureza aumentou muito, o preço das drogas se torna cada vez menor. Por tudo isso, podemos dizer que é uma política fracassada”, afirmou ele, que participou hoje (23), no Rio de Janeiro, da 2ª Reunião da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia. O encontro reúne, durante todo o dia, especialistas para discutir avanços e desafios nas políticas de combate às drogas.

Ele também criticou o fato de que, com a proibição do consumo, torna-se mais fácil a crianças e adolescentes adquirir essas substâncias no mercado ilegal do que as chamadas drogas lícitas, como álcool e cigarro.

“Nas ruas, eles não querem saber se o comprador tem documento de identificação, se tem idade suficiente, como ocorre nos Estados Unidos para liberar a venda de bebidas alcoólicas, por exemplo. Nas ruas, eles só querem saber se o comprador tem o dinheiro [para comprar a droga]”, acrescentou.

O diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, delegado Roberto Troncon, acredita que essa medida não representa uma solução definitiva.

“Já se sabe que a visão da Organização das Nações Unidas de dez anos atrás de que erradicaríamos as drogas ilícitas em uma década foi irreal e utópica. Então pensamos: ‘Se as drogas fossem liberadas por lei acabaríamos com a violência no Rio, por exemplo?’ Me parece que não. Trata-se de uma questão muito complexa. Existem grupos de pessoas já profundamente envolvidos com o crime que ficariam sem emprego”, afirmou, admitindo que neste caso esse contingente poderia migrar para outras atividades criminosas.

Ele defendeu, ainda, que a repressão policial, como a praticada pelas polícias nas favelas cariocas, seja a última etapa do processo de combate às drogas.

“Antes disso, precisamos pensar em prevenção, com ações de educação, saúde e presença do Estado. Mas se nada funcionou, não podemos abrir mão de combater o crime [com ações policiais]. A solução é complexa porque tem que integrar a prevenção, melhorias no sistema penitenciário, que hoje mais produz criminosos do que os recupera, programas de tratamento aos usuários e por último, ação policial”, ressaltou.

Troncon também comentou o episódio envolvendo dois policiais militares acusados de omitir socorro ao coordenador da organização não governamental AfroReggae, Evandro João da Silva, assassinado na madrugada de domingo (18) após um assalto. Os agentes teriam roubado os pertences da vítima levados pelos criminosos, que não foram presos.

“Nenhuma organização prospera se não agir com muita força neste aspecto. É preciso ter tolerância zero com desvios de conduta e uma política de valorização dos policiais, que vão todos os dias para as ruas defender a sociedade, expondo a risco suas próprias vidas. Eles devem ser bem preparados, remunerados e ter condições mínimas para exercer suas funções”, afirmou.



Edição: Lílian Beraldo  


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